AGRICULTURA CONVENCIONAL E ORGÂNICA, QUAL A DIFERENÇA ENTRE AS DUAS?

AGRICULTURA CONVENCIONAL E ORGÂNICA, QUAL A DIFERENÇA ENTRE AS DUAS? 1

 

 

Já se foi o tempo em que o brasileiro não se importava com o que era colocado à sua mesa. Em meio a acaloradas discussões (no Congresso e na sociedade) sobre consumo consciente e “desintoxicação” do meio ambiente, o contraponto entre agricultura convencional e orgânica nunca foi tão debatido, o que exige que os empresários do setor de restaurantes, supermercados e até padarias fiquem a par desse que parece ser um caminho sem volta nos hábitos de consumo nacional.

O mercado de orgânicos tem apresentado crescimento constante já há alguns anos. Segundo levantamento realizado pelo Conselho Brasileiro de Produção Orgânica e Sustentável (Organis), 15% da população consumiu algum produto orgânico nos últimos 12 meses, mas a expansão do setor tem batido os 20% ao ano.

O aumento inexplicável do diagnóstico de enfermidades pouco conhecidas no passado (especialmente as cancerígenas) tem sido creditado ao uso indiscriminado de fertilizantes na produção agrícola das últimas décadas. Quem trabalha no setor gastronômico precisa acompanhar atentamente o tema para não ser surpreendido e perder competitividade para sua concorrência de vanguarda.

Você pode começar essa atualização hoje, entendendo a diferença entre agricultura convencional e orgânica. Vamos conferir?

Entendendo o contexto, como surgiu uma alternativa à agricultura “tradicional”?

A década de 1970 foi o período do milagre econômico no Brasil, fase em que a agroindústria ganhou corpo frente à produção familiar, e em que os subsídios e o crédito fácil ao setor alavancaram a produção em níveis jamais vistos. Os lucros abundantes com a exportação e a modernização agrícola se chocaram, entretanto, com as contradições inerentes a esse modelo industrial de pensar a agricultura.

A primeira crítica se originou do impacto ambiental que a devastação das florestas (para dar espaço a novas áreas produtivas) trazia ao planeta. O uso intensivo do solo e a utilização desmedida de agrotóxicos geraram contaminação de alimentos e os primeiros casos de trabalhadores rurais enfermos pela inalação constante de componentes químicos não demoraram a surgir.

Já na metade da década de 1970, muitas pesquisas foram levadas ao público, apontando os riscos de consumir os alimentos que a agroindústria produzia. Proliferaram-se, nos anos seguintes, denúncias de resíduos de agrotóxicos identificados em embutidos, verduras e laticínios. Foi nesse contexto que a agricultura convencional e orgânica começou a ser discutida.

Em essência, o que é alimento “orgânico”?

Ao contrário do que você pode pensar, alimento orgânico não é somente aquele livre de agrotóxicos. Trata-se de uma nova abordagem que vai muito além desse escopo. A produção orgânica, além de dispensar totalmente a inserção de insumos artificiais (como adubos químicos e fertilizantes), também está alheia às drogas veterinárias, a toda sorte de hormônios e aos elementos geneticamente modificados. Mas a restrição não termina aqui.

O processo de produção agrícola orgânica também não usa radiações ionizantes (tecnologia com potencial cancerígeno se mal usada, encontrada, em alguns casos, na agricultura tradicional), tampouco corantes, aromatizantes ou qualquer outro componente químico que possa trazer efeitos sintéticos no organismo humano. Esse modelo produtivo no campo objetiva, enfim, aumentar a oferta de produtos saudáveis e com alto valor nutricional, promover o trabalho sustentável e preservar a saúde dos consumidores, virtudes que incendeiam a discussão entre agricultura convencional e orgânica.

Vantagens e desvantagens da agricultura orgânica

Vamos sistematizar o tema indicando abaixo alguns dos mais cruciais benefícios da produção agrícola orgânica:

  • Utilização de adubação orgânica (como esterco);
  • Manejo ecológico das pragas presentes na produção;
  • Busca de mais saúde para o trabalhador rural, bem como para o consumidor;
  • Conservação ambiental.

Mas se você trabalha com comércio de alimentos, é importante saber que existem também desvantagens na comercialização desse tipo de produto. Os mais conhecidos percalços em lidar com essa vertente são, principalmente:

  • Alto custo no preço final;
  • Baixa produtividade na agroindústria (o que pode ensejar ao varejo atrasos na entrega).

O que é agricultura tradicional?

Em oposição aos alimentos in natura, os tradicionais seguem a base da chamada Revolução Verde dos anos 1970, cuja premissa centralizava-se no aumento da produtividade por meio do uso extremo dos aditivos químicos sintéticos no processo de produção e conservação.

O problema é que o uso desses componentes químicos para manter a textura, o sabor e a coloração dos alimentos, caso não seja muito bem planejado, tende a desnaturar proteínas e a destruir vitaminas. Como a produção nesse modelo se dá em larga escala, o tempo de estocagem costuma ser maior, o que também contribui para a perda de nutrientes.

Dessa forma, quem trabalha com bares, restaurantes, padarias ou supermercados tem a responsabilidade de estudar minuciosamente os prós e contras entre agricultura convencional e orgânica para conciliar custos e índices de lucratividade com o respeito à saúde de seus consumidores.

Vantagens e desvantagens da agricultura convencional

A agricultura convencional, por incrível que pareça, traz também algumas vantagens aos varejistas (embora quase todas elas se restrinjam ao âmbito operacional). As principais são:

  • custo mais baixo;
  • diversidade de pontos de abastecimento (fornecedores), o que assegura entregas mais rápidas.

Já os problemas decorrentes dessa opção são sabidos de todos, estando em posição exatamente oposta aos benefícios dos produtos mais ecológicos. Os principais deles são:

  • contribuição do varejista que compra esses produtos à criação de pragas mais resistentes, além da degradação mais rápida do solo e da contaminação dos cursos de água;
  • distribuição de alimentos pouco saudáveis e (a depender da produção) propícios ao desencadeamento de enfermidades crônicas  (como as de origem oncológica);
  • estímulo à monocultura, em razão da pressão pela grande escala de produção (desvantagem à agroindústria).

O ideal é balancear seu portfólio, oferecendo uma quantidade majoritária de produtos que favoreçam a alimentação consciente de seu consumidor. Você pode entregar um vasto rol de opções orgânicas, sem, entretanto, perder de vista que sucesso empresarial é também controle de custos.

Ou seja, em um setor como o alimentício (que trabalha com mínima margem de lucro), uma pequena parte de produtos tradicionais de baixa industrialização (desde que devidamente certificados) pode ser mesclada a um cardápio variado de alimentos orgânicos, no intuito de ajudar a baixar o custo médio total dos insumos, sem deixar de prover opões mais saudáveis a seus clientes.

E em sua empresa, como você concilia agricultura convencional e orgânica? É possível manter um cardápio 80% in natura sem agredir o gosto de seus consumidores? E as diferenças de custo entre os produtos tradicionais e ecológicos? Deixe sua opinião!